quinta-feira, 26 de julho de 2012

O imaginário mundo de Michel Leclerc

Henrique Otani

Se “toda unanimidade é burra”, não existiria alguém mais estúpida que Baya Benmahmoud aos olhos de Nelson Rodrigues. A esquerdista militante de Les Nom des Gens, do francês Michel Leclerc, classifica todos à sua direita ideológica como “fascistas”. Independentes do viés ideológico e do humor rasteiro contidos no longa-metragem, há duas interpretações concebíveis de sua mensagem: uma, tola e irracional, formada aos olhos de um esquerdista similar à própria Baya; outra, crítica e satírica, de um espectador comum.

Com locus communis em demasia, o humor do filme não se encontra em sua história ou em suas frases soltas – como a de Cécile, mãe de Baya, em uma esquina qualquer dizendo que “a CIA financiava o regime fascista de Pinochet” -, mas em sua caricaturização involuntária da militância da esquerda francesa.

Baya Benmahmoud é uma bela moça e leva a frase “make love, not war” tão a sério que seria uma figura inusitada até no cenário americano de contracultura da década de 1960. Para convencer seus “inimigos fascistas” – que eram os mesmos de sua mãe: franceses, ricos, consumistas e todo o resto do ocidente – a mudar de lado, utiliza o sexo de forma imoral e deslavada. A evocação de Nelson Rodrigues não foi despropositada: Nelson dizia que, se houvesse a dissociação do sexo e do amor, o homem começaria a se desumanizar. De fato, observa-se que Baya não age como um ser humano comum e, completamente fora de si, chega a esquecer de suas vestes ao sair de casa, mas retorna ao seu estado normal de cognição ao ser abordada em um metrô.

Com um histórico de sucesso na conversão de homens “fascistas” ao lado “esclarecido e democrático”, Baya investe em uma nova vítima: Arthur Martin, aparentemente conservador, mas que tem como ídolo o socialista Lionel Jospin. Os dois iniciam um estranho relacionamento recheado de idas e vindas. Apesar das contradições, Arthur mostra-se sensato ao dizer à Baya que existe honestidade em ambos os lados, mas ela discorda e diz que a política é feita de idéias e que as idéias da direita sempre estão relacionadas ao dinheiro, ao nacionalismo e fazem valer as “leis da selva”. Forma-se então mais uma caricatura: a esquerda que quer discutir idéias mas não apresenta nenhuma de suas próprias, apenas questiona algumas tidas como verdadeiras sobre a direita.

Do socialismo – talvez de forma mais acentuada e com absoluta certeza de uma forma mais vigarista -, surgem homens que têm como única meta enriquecer aproveitando-se de seus “iguais”. É a servidão que não é comum apenas a um sistema econômico, mas aos relacionamentos estabelecidos entre os seres humanos em um sistema supostamente igualitário.

As “leis da selva” – em que “sobrevivem os mais fortes” – são nada mais que os valores de meritocracia e de livre concorrência, incompreensíveis a um ser humano incapaz de se inserir no mercado. Faz-se necessário, no entanto, explicitar que alguns homens – sobretudo os que nasceram à margem da sociedade – são realmente incapazes de concorrer em uma economia de mercado; outros, entretanto, têm a oportunidade e não se inserem na competição em razão de seu comodismo ou mera vigarice, restando-lhes a crítica voraz e infundada ao “sistema feroz”.

Sendo assim, o nacionalismo não deve ser visto como danoso tanto na economia quanto no âmbito social. Da mesma forma que grandes multinacionais se associam umas com as outras, formando monopólios internacionais, é compreensível que uma empresa nacional busque em seu governo – se não houver outro financiador disponível – apoio no intuito de não ser esmagada. Algo semelhante ocorre com os marginalizados em uma economia de mercado: cabe ao estado oferecer-lhes condições de concorrer em igualdade com os demais. Ademais, o nacionalismo, no sentido em que é empregado, evita os males de um teórico governo mundial, com a mais completa destruição das fronteiras nacionais e de inúmeras culturas locais.

Logo após tal “discussão”, Baya compra alguns crustáceos em um feira e, acompanhada de Arthur, seguem ao litoral no intuito de “salvar” esses animais. Nessa cena, há a utilização de um recurso fotográfico muito interessante: a música tocada e a iluminação dão um ar sublime à Baya, como se a mesma estivesse realizando um feito digno de ser inocentada de qualquer erro que tenha cometido, sendo assim infantilizada – seu tom de voz muda e então indaga “como ficariam os camarões” nas garras cruéis do capitalismo.

Em um dos momentos finais do filme, Baya surta ao votar equivocadamente em Nicolas Sarkozy, atribuindo a si mesma a culpa de sua eleição em 2007. Nesse misto de erros, chavões e pregação ideológica barata, a personagem de Sara Forestier retrata bem o tipo de esquerdista que entra no embate ideológico atual – não só na França, mas em todo o ocidente -, tornando-o caricato e inútil, ocasionando a mais completa estupidez obrigatória.

Publicado originalmente no blog Sapientia et Veritas

Helenismo, decadência e suas relações com o Brasil

Alessandro Barreta Garcia*

            Com a decomposição da pólis grega, já anunciada pela guerra de Peloponeso abre a possibilidade de Felipe, filho do rei Amintas e pai de Alexandre o grande, desferir uma ofensiva contra os gregos (GIORDANI, 2006 e GARCIA, 2012). Segundo Toynbee (1963) Felipe teria sido educando entre os tebanos e aprendeu muito sobre a cultura grega. Na expectativa de introduzir na Grécia um império universal, Felipe já preparava seu filho no qual tinha aulas com um dos maiores mestres do conhecimento grego, o filósofo Aristóteles.
            Em 338 a/C Felipe obteve importante vitória contra os gregos na Queronéia. Com o intuito de introduzir entre os gregos um império universal Felipe contribui para a alteração da categoria de cidadão que passara não só de Cidadão/Soldado para Soldado/profissional como também para súdito. Para Toynbee (1963), Felipe impõe uma unidade e paz entre os gregos. Ainda assim tais mudanças serão significativas e profundas na civilização helênica.
            Nesse novo quadro social, o helenismo, ou seja, a difusão da cultura grega para outros povos do oriente representam também a queda efetiva do conceito de cidadania, ou mesmo, seu total desaparecimento. Segundo Giordani (2006): “A Grécia clássica em com ela a pólis desapareceria, de certo modo, do cenário da História para dar lugar a uma nova civilização, a uma nova concepção de vida” (p. 176). Deste modo, o cidadão/soldado já não teria mais espaço nesse ambiente social. Dominante na época, as monarquias abrem espaço a outra categoria: o súdito.
            Passado o período da filosofia clássica, Carvalho (2006a) aponta que o desenvolvimento da filosofia sofre grande queda. As escolas filosóficas tais como a de Sócrates, Platão e Aristóteles não apresentam mais um nível de composição das ideias. Apesar disso, no período helenístico é observado um grande avanço estrutural, pois o número de bibliotecas e institutos de ensino é maior Lévêque (1987). Ainda assim, esse aumento foi apenas quantitativo e nada comparado ao florescimento de ideias do período anterior. Como prova do individualismo, o lirismo na época helenística é observado por Carvalho (2006a); Lévêque (1987) e Garcia (2012) como uma espécie de sabedoria pessoal. Na comedia Toynbee (1963) reconhece uma ausência no que se refere ao vinculo com a política como se observava nas comedias da época clássica.
            Sem um ambiente democrático, as tragédias envoltas em histórias clássicas dão lugar a uma história individual, tendo ela a problematização do individuo, seus sentimentos e aflições, dignas da nova ordem histórica, uma ordem isolada dos problemas discutidos em grupos e nas assembleias. Nascia uma espécie de autoajuda.
            O Brasil vive algo semelhante, pois, apesar do status de democracia, o brasileiro se comporta como um verdadeiro súdito. A sua não participação nas decisões políticas e sociais do país parece confirmar sua característica individualista e notadamente passiva. Nos últimos anos parece ficar claro a ofensiva ideológica para neutralizar a percepção do povo brasileiro.
               Para Rodríguez e De Sousa (2006):
Emerge dessas considerações o conceito de “revolução passiva”, onde os principais sujeitos históricos (as classes operárias e os camponeses pobres) são deixados do lado de fora do processo histórico e cooptados pela hegemonia de classes alheias aos seus interesses. Esse processo, como o ocorrido na Itália na época do Rissorgimento, é efetivado, pelas classes dominantes, sem recurso ao terror, na medida em que os de baixo são cooptados passivamente. As classes dominantes utilizam, nesse processo de cooptação dos seus inferiores, os mecanismos que Gramsci denomina de “aparelhos privados de hegemonia”, que consistem na escola, na igreja, nos jornais e nos demais meios de comunicação em geral (RODRÍGUEZ e DE SOUSA, 2006, p. 10).            Para os progressistas que seguem a linha do marxismo gramsciano, o combate ao conservadorismo e as leis constitucionais são intensificadas. Como aponta Rodríguez e De Sousa (2006), é preciso a partir dos intelectuais orgânicos o domínio das massas formando um coletivo que para Carvalho poder ser considerado como o Imbecil Coletivo (CARVALHO, 2006b). A propaganda neste caso é essencial para que os intelectuais orgânicos coloquem em prática o que foi preconizado por Gramsci e pela escola de Frankfurt.
            Um dos últimos exemplos dessa busca pela individualização é a legalização do aborto de crianças anencéfalas. Outro exemplo é a enorme venda de livros de autoajuda, uma característica emblemática do período helenístico. A enorme quantidade de grupos sociais, tidos como minorias, pelas quais buscam direitos individuais contrários à constituição brasileira. No Brasil, somos protagonistas de um dos piores níveis educacionais do mundo e um dos maiores níveis de assassinato por ano. Um modelo educacional no qual quer incitar ao anticristo. Esses são alguns exemplos da decomposição brasileira, um verdadeiro período de decadência, individualização e miséria intelectual.
            Não obstante, a música brasileira em geral é de péssima qualidade, pois, como não poderia ser diferente, visto que o brasileiro com uma das piores educações do mundo não poderia formar uma classe popular, e até mesmo elitizada, na qual pudesse conseguir distinguir uma música ruim de uma canção harmônica, um livro de autoajuda de um clássico, um filme fundo de quintal de um épico. Que Deus proteja nosso país.
           
REFERÊNCIAS

CARVALHO, O. Período Helenístico I. Coleção história essencial da filosofia. São Paulo: É Realizações, 2006a.

CARVALHO, O. O imbecil coletivo: atualidades inculturais brasileiras. São Paulo: É Realizações, 2006b.

GARCIA, A. B. Educação Grega e Jogos Olímpicos: Período Clássico, Helenístico e Romano. Jundiaí, Paco Editorial: 2012.

GIORDANI, M. C. História da Grécia antiguidade clássica I. 8.ed. São Paulo:Vozes , 2006.

LÉVÊQUE, P. O Mundo Helenístico. Editora: Edições 70, Lisboa – Portugal, 1987.

RODRÍGUEZ, R. V, E , DE SOUSA, P. S.  O marxismo gramsciano: pano de fundo ideológico da reforma educacional petista. Revista Interdisciplinar de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos. Ano I, Nº 1, Juiz de Fora, set.-nov./2006.

TOYNBEE, A. J. Helenismo - história de uma civilização. Rio de Janeiro: Zahar, 1963.

* É mestre em Educaçãohttp://www.alessandrogarcia.org/

Publicado originalmente em:

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Filósofo Olavo de Carvalho ganha a Medalha Tiradentes



Gravação do programa True Outspeak, de Olavo de Carvalho, transmitido em 11 de julho de 2012.

Neste programa, o deputado estadual Flávio Bolsonaro entregou a Olavo de Carvalho a Medalha Tiradentes, homenagem da Assembléia Legislativa do estado do Rio de Janeiro.

O Louvre do comunismo


Continuo convencido de que Cuba é um inesgotável museu da ideologia.
Quando lá andei em outubro do ano passado, percebi que a realidade social declinara ainda mais. Tudo precário e tudo escasso.


Existem jornais detestáveis. Nenhum, porém, se compara com qualquer dos diários cubanos - o Gramna e o Juventud Rebelde. Ambos são órgãos oficiais. O primeiro é do partido e o segundo da juventude do partido. Jamais alguém leu no respectivo noticiário local uma linha sequer que não corresponda à opinião do governo sobre si mesmo. E todas as matérias internacionais são retorcidas para caber na interpretação política e ideológica do regime.  Por isso, merecem aplausos os raros jornalistas independentes e comunicadores comunitários que, a duras penas e com grave risco pessoal, enviam ao exterior informações sobre a difícil situação imposta pela reumática gerontocracia que domina o país. O trabalho que realizam cumpre dupla missão cívica. Na primeira, revela o que, de outro modo, não se ficaria sabendo sobre o que acontece por lá. Na segunda, desnuda a criminosa cumplicidade da "rede internacional de solidariedade a Cuba" com a tirania que há mais de meio século vem sendo exercida sobre o bom e sofrido povo cubano.

Os quase três milhões de turistas que vão a Cuba todos os anos pouco veem da realidade local. Passeiam por Habana Vieja, almoçam no Floridita, jantam na Bodeguita del Medio, tomam seus daiquiris e mojitos na varanda do Hotel Nacional e mandam-se para as areias indescritivelmente brancas de Varadero e Cayo Largo. Esse turismo é nada revelador, mas muito sedutor. Aliás, certamente o errado sou eu que em várias idas a ilha nos últimos 12 anos limitei-me a estudar sua realidade social e política. Com tal interesse, já parei em casa de família, nunca fiquei em hotéis de luxo, jamais fui àquelas praias e sequer entrei nos dois badalados e mundialmente conhecidos restaurantes que mencionei acima. Continuo convencido de que Cuba é um inesgotável museu da ideologia. Havana é o Louvre do comunismo.

Quando lá andei em outubro do ano passado, percebi que a realidade social declinara ainda mais. Tudo precário e tudo escasso. O povo mais desesperançado. Contaram-me que tomavam banho e lavavam as coisas apenas com água por falta de sabão, sabonete e detergentes. Estavam com graves dificuldades para a higiene pessoal. Quando voltei ao Brasil, pesquisei na rede e fiquei sabendo que, no início de 2011, os sabonetes haviam saído da "libreta" (aquela caderneta de racionamento que já vai para mais de meio século) e ido para a "libre" ou seja, deviam ser adquiridos aos preços de mercado. Meio dólar a peça, num país onde o salário mensal é de 14 dólares. Num artigo que me chegou dias mais tarde, o autor chamava de liliputiano esse sabonete, tão diminutas eram suas dimensões.

São informações que infelizmente não repercutem tanto quanto deveriam na imprensa mundial. Uma jornalista me conta sobre certa paciente com problema dentário que não conseguia ser atendida no seu centro clínico porque o local estava em falta de detergente para lavar os instrumentos. Há poucos dias, leio que em Sancti Spíritus (cidade com cerca de 300 mil habitantes, na região central da ilha) um grupo de mulheres disputou sabonetes a tapas e bofetadas num armazém local. A baiana só parou com a chegada de várias viaturas policiais. Alguns circunstantes que não participaram do fuzuê comentaram que a permanente escassez e as longas filas que precisam ser enfrentadas para tudo estão levando as donas de casa a esse tipo de descontrole.

Briga de rua pelo direito de comprar sabão? Sabão? Mas o sabão é um dos produtos industriais mais antigos e simples da civilização! É usado desde 2500 anos a.C.. A indústria de sebos e sabões está para a indústria de bens de consumo assim como a roda e a manivela estão para a indústria de bens de capital. Uma economia onde se disputa no braço o direito de comprar sabão está a quilômetros da antessala do atraso. E não me venham dizer que é por culpa dos ianques que em Cuba não conseguem misturar sebo com soda cáustica.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Gambás e alcatras

Carlos Ramalhete

Gambá é um bicho que é muito atropelado. Não é difícil entender o porquê, quando se os vê atravessando a estrada, rebolando e jogando aquele rabão feio e pelado de um lado para o outro. Carcaça de gambá atropelado é uma dessas coisas que só urubu pode achar apetitoso, mas que são frequentes o suficiente para que quem viaja muito sempre as veja.
Em ambientes controlados, refrigerados e limpos, vemos outro tipo de carcaça animal: belas peças de alcatra e picanha, penduradas nas vitrines dos açougues. Tão bonitas que acho que o urubu iria demorar para entender que é para comer.
problema começa quando o tratamento dado às alcatras começa a ser estendido a seres humanos, como fazem os muitos homens que tratam as mulheres como coisa, como peças de carne expostas em açougues. É um problema sério, que só pode ser combatido fazendo com que eles percebam que elas são muito mais que peças de carne. Reafirmando a sempre existente dignidade feminina que eles negam.
Infelizmente, há quem ache que a solução é passar de alcatra a carcaça de gambá atropelado. Como triste exemplo, sábado teremos uma passeata de carcaças de gambá em Curitiba, quando a edição local da “Marcha das Vadias” vai tentar desfazer o que resta de respeito à dignidade feminina, com direito a senhoras seminuas, com frases de efeito rabiscadas pelo corpo, berrando como almas penadas e assustando as crianças, os cachorros e mesmo algum gambá ou urubu perdido na cidade.
O equivalente masculino talvez fosse uma passeata de barrigudos de cuecas, com o controle remoto numa mão e a latinha de cerveja na outra, arrotando e coçando as partes, como forma de protesto contra a falta de reconhecimento da dignidade masculina. E, mesmo assim, seria um mal menor que a “Marcha das Vadias”, porque a dignidade feminina é infinitamente maior que a masculina. Sua negação – em grau menor pelos donjuans de porta de botequim e em dose máxima pelas vadias urrantes – é um atentado maior que a da masculina, por ser mais digno o alvo do atentado.
Costumo dizer que o feminismo tirou a mulher do pedestal e a arrastou para o açougue; as “vadias”, querendo ser carcaças de gambás atropelados, são apenas a versão já farsesca do mesmo erro fundamental de querer fazer a mulher descer ao nível do homem, achando que isto seria uma forma de melhorar sua situação social. A imbecilidade machista deve ser combatida pela afirmação da dignidade e da capacidade feminina, não pela imitação do pior do sexo masculino.
Nem alcatra, nem gambá: mulher.




sexta-feira, 6 de julho de 2012

Qual o problema da educação brasileira? É a falta de salário ou a falta de vontade?

Antonio José de Pinho*

No momento em que escrevo este texto, em Florianópolis, a UFSC, o Hospital Universitário a Eletrosul e os motoristas das empresas de transportadoras de valores estão em greve. Resultado: já não há mais dinheiro nos bancos, os alunos da UFSC estão prejudicados, como também os pacientes do Hospital Universitário. Os estudos ficam comprometidos, pois serviços básicos no campus estão parados. Quem quiser ir a um laboratório de informática ou a biblioteca estudar está impossibilitado. O comércio já começa a sentir os efeitos, pois com falta de dinheiro em circulação na cidade, o povo deixa de comprar. É uma simples relação de causa e efeito. As greves injustas afetam mais a população, e seus estragos são em grande parte maiores que hipotéticos benefícios a classe paralisada.      
Toda greve é motivada pela defesa de uma classe, e não pela defesa do bem-estar da população. Quando a greve é ganha pelos grevistas o que ocorre? Aumento de salários. Acontece que no Brasil o direito a greve praticamente só existe para funcionário público. Com a tradição grevista do funcionalismo público tupiniquim, a consequência é que os salários pagos pelos cofres públicos aos funcionários públicos superam em grandes proporções os pagos pela iniciativa privada. É justamente por esses altos salários que os concursos públicos têm atraído cada vez mais candidatos, que querem só é se encostar no Estado para ganhar mais, trabalhando menos, e sem risco de perder o emprego. Ou seja, temos aí a fórmula ideal da incompetência, da corrupção e da falta de produtividade.     
O problema não é em si o salário do funcionário público, mas o efeito negativo que causa na economia nacional. O governo do PT realizou inúmeros concursos e reajustou os salários do funcionalismo público de forma irresponsável, sem pensar no efeito negativo que isso vai ter a longo prazo, o que gerou um espantoso crescimento do Estado em detrimento da iniciativa privada. Quem está sofrendo com isso é justamente a iniciativa privada, que está tendo que arcar com umas das maiores cargas tributárias do mundo, que está batendo os 40% do PIB. Todos nós trabalhamos nada menos que 150 dias por ano só para o Estado, para pagar impostos, ou seja, para pagar os altos salários de funcionários públicos que ganham muito acima do que ganhariam trabalhando na iniciativa privada, e ainda trabalhando menos.  
Esse é um sistema que barra o crescimento da nação, e até gera pobreza. Quando mais o Estado cresce de forma irresponsável, torna-se mais pesada a carga de impostos sobre as empresas. Pagando mais impostos, as empresas dão a um Estado corrupto e ineficiente recursos financeiros que poderiam ser aplicados pela própria empresa em seu crescimento, adquirindo novas máquinas, pagando a formação de seus funcionários, aumentando sua estrutura física, aumentando produtividade... No fim das contas, quando as empresas pagam poucos impostos, e são pouco reguladas pelo Estado, o que ocorre é a geração de mais riquezas, pois são criados mais empregos qualificados. Isso é bom para o próprio Estado, porque se a iniciativa privada produz mais, consequentemente, vai pagar mais impostos. Com uma arrecadação maior, e baixa carga tributária, mais recursos podem ser aplicados na educação e no desenvolvimento tecnológico.
Com isso entramos no problema da educação. Seu mal é o mesmo mal de uma máquina estatal corrupta e pouco produtiva. Falta a educação um espírito mais alinhado aos valores do capitalismo saudável, ou seja, uma educação que pense na geração de resultados práticos, na livre concorrência que valorize a competência individual de escolas, professores e alunos, na busca constante pela qualidade do serviço prestado, etc. O problema é que os sindicatos de professores defendem causas que são “boas” aos professores e ruins aos alunos e a sociedade. Os sindicatos querem redução de carga horária e aumento de salários – uma lógica que é totalmente inversa a do capitalismo, no qual quem quer ganhar mais, tem que trabalhar mais. Não digo que os professores devam ser submetidos a cargas horárias excessivas, mas o bom senso tem que ser mantido. Quando o professor trabalha menos, o aluno também vai aprender menos. No Brasil os alunos ficam em média 4 horas na escola nos 5 dias úteis. Nos países desenvolvidos é comum o aluno ficar bem mais que isso na escola. Se o aluno fica mais tempo em sala de aula, aumenta a probabilidade dele aprender mais.
Outro problema é a falta de produtividade. Os alunos saem do ensino médio sem saber história do Brasil e história geral, matemática, inglês e espanhol, e com baixa proficiência em leitura e escrita em português. Como podemos querer que o Brasil se desenvolva social e economicamente sem que grande parte da população tenha esses conhecimentos míninos, essenciais para um mundo globalizado e altamente tecnológico? Quem não domina seu idioma, uma língua estrangeira e matemática não poderá ser um engenheiro. Quem não conhece a história de seu país não vai poder compreender a realidade atual com profundidade, o que lhe impossibilita ser um cidadão consciente na hora do voto.
A falta de qualidade na educação tem enormes efeitos maléficos em todos os setores da sociedade. Por outro lado, uma educação de excelência vai fazer toda a diferença: a economia se desenvolve, a nação prospera, os eleitores são mais conscientes de seu papel na história e na sociedade, a cultura progride e a democracia se fortalece.
O que contribui para a falta de produtividade na educação é que os professores gastam enorme tempo em sala de aula em discursos políticos, geralmente defendendo o comunismo/socialismo e as causas de seu sindicato, em vez de ensinar de forma criativa os conteúdos de sua disciplina. Enquanto estive no ensino médio, os professores chegaram a chamar um cubano para enaltecer a ditadura genocida de Fidel Castro. Esses mesmos professores faziam religiosamente uma greve por ano. Na maior delas fiquei mais de 40 dias úteis sem aula.
Todo esse tempo perdido, ao longo dos anos, acaba tempo um significativo peso na formação (ou falta dela) que os jovens levam para sua vida adulta. A falta de qualidade dos professores impede o acesso a muitos a educação superior. Para tentar “sanar” os danos de professores ineficientes, o Estado cria cotas raciais que só geram mais problemas. Porque as cotas raciais acabam criando um conflito racial – até uma segregação cultural – num país com histórica boa convivência entre diferentes etnias.                           
Os professores gastam tempo em discursos ideológicos muitas vezes porque não dominam nem os conteúdos de sua especialidade. Numa pesquisa recente se constatou que 90% dos professores do ensino fundamental acertaram menos de 60% das questões de uma prova avaliativa a que 12000 profissionais da educação foram submetidos. Ou seja, se os professores fossem alunos, 90% teriam reprovado de ano. (1) Como comentei em meu artigo anterior, sobre a greve na UFSC, o problema se inicia nas próprias universidades federais, que desde a ditadura têm se tornado verdadeiros feudos de comunistas, a propagar os estragos da revolução marxista por toda a “cultura” nacional. Formados no marxismo, e não na ciência, os professores vão para a sala de aula dar aula de marxismo cultural, e não de ciência. Esse é o centro da questão.
A solução da educação brasileira está no fim da estabilidade no emprego dos professores da escola pública. Também deve ser criado um sistema de avaliação como o da OAB para a concessão de diplomas de licenciatura. Devem ser criados rigorosos meios de avaliação periódica dos professores para averiguar o nível de seus conhecimentos. O desemenho dos alunos também deve ser avaliado. Isso instauraria na educação a meritocracia. Os professores que tivessem mais conhecimentos e melhor desempenho intelectual ganhariam mais, e teriam benefícios para continuar seus estudos em nível de pós-graduação. Os que reprovassem deveriam ser encaminhados a cursos de aperfeiçoamento. Se seu desempenho não melhorasse com o tempo, deveria ser severamente punido. Pois quando o professor não é punido, os punidos são os alunos, que não entram para uma boa universidade, ficando assim impedidos de ascender socialmente.          
Uma profunda reestruturação da educação brasileira é necessária se queremos entrar para o grupo das nações desenvolvidas social, cultural e economicamente. Só um sistema educacional baseado na meritocracia nos tirará do estado de barbárie e esquizofrenia coletiva em que mergulha o Brasil atual.
Referência:
(1) BORGES, Helena. Quando a conta fecha. Veja, edição 2275, 27 de junho de 2012, p. 126-127.
* É Mestre em Linguística e Bacharel em Letras pela UFSC. Escritor, publica seus textos no blog Cibercrônicas.    

Leia também:

UFSC em greve


Capitalismo versus ambientalismo

A verdade sobre a vacina contra a gripe

domingo, 1 de julho de 2012

O discurso socialista

César Oliveira*

O discurso socialista, afogado que é em abstrações e palavras de ordem, constitui-se, sem qualquer sobra de dúvidas, no que há de mais asqueroso, deprimente e alienante na atual circunstância decadente em que se encontra a sociedade moderna; decadência que, diga-se de passagem, é fruto sobretudo da degradação cultural e moral que o pensamento marxista vem lhe impondo obstinadamente nos últimos dois séculos. Uma visão de mundo que reduz todas as perspectivas possíveis e toda a gama complexa de relações sociais a apenas um entendimento estreito e mesquinho de que, no ambiente humano, tudo não passa de consequências da forma como o homem produz seus meios de subsistência e organiza-se nas relações de trabalho, além de enxergar o todo social como uma contínua e infindável luta de classes, não poderia, ao rastejar pelo mundo, deixar de imprimir as marcas de sua infâmia, irrealidade e loucura. Tal concepção de mundo não passa de preguiça mental e de arranjos montados as presas para servir de base para àqueles que intentam aparecer de intelectuais e para outros que desejam tão fanaticamente o comando para, com base em delírios e obsessões, colocar em prática as mais absurdas engenharias sociais e, por amor próprio, perpetuarem-se no poder.

Querendo apresentar-se como salvador, não passa de um monstro que consome, à medida que aumenta, o pouco que já se conseguiu, ao longo de milênios, construir de liberdade, esperança e felicidade na terra. Ao se alimentar do que há de pior no sentimento humano - a inveja, o ressentimento, o ódio, as intenções de vingança, a hipocrisia, a vaidade, o desejo descontrolado pelo poder - consegue agrupar à sua volta uma multidão fanática, obediente e obstinada a destruir apenas para satisfazer seus mais vis sentimentos e constituir o monopólio do poder para, com ele, descarregar sobre os outros o que de pior escodem dentro de si. É justamente por isso que os regimes socialistas foram os mais assassinos da história, diante dos quais todos os outros são erigidos à mera brincadeira de criança.

Não olhar para os exemplos de sua ação concreta para sempre renovadamente deixar-se enganar pelos discursos inchados, genéricos e superficiais do socialismo, mostra apenas que muitos dos que assim procedem não querem mesmo a verdade, porém apenas utilizar-se dele como máscara para camuflar os desejos mais ignóbeis e as ambições mais satânicas possíveis, uma vez que as mesmas, reconhecidas prontamente sem o disfarce ou simulação que as encobre, logo seriam desprezadas e levariam seus autores a serem vítimas do escárnio e do repúdio públicos.

Não se restringindo apenas aos Gulags, aos processos de Moscou, às coletivizações forçadas, à revolução cultural chinesa, aos tribunais revolucionários, e tantas outras atrocidades, o efeito da ação destrutiva do socialismo se estende a toda vivência humana, já que sua influência nociva é reconhecida até mesmo na área das letras, pois a humanidade esta sendo afetada pela pobreza do vocabulário e pela consequente estreiteza do pensamento que, preso em preconceitos violentos - impedido de atuar livremente - ver-se amarrado nas estruturas nefastas do politicamente correto.

Dissociado de todo sentido espiritual, o socialismo busca realizar aqui mesmo na terra o tão sonhado céu de glória; não obstante, muito diferente do discurso religioso (sobretudo o cristão) - cuja fé se fundamenta em um Deus poderoso, bom e infalível - o socialista se baseia na fé cega no homem, entregando a este a missão de renovar a sociedade, transformando-a no paraíso terrestre. Fruto de uma ilusão tão infantilizada e elevada ao extremo, o que tem produzido, como não poderia deixar de ser, é não menos que fome, opressão, derramamento de sangue e pobreza extrema.

Disfarçado de discurso científico, na prática é uma religião materialista que, reduzindo toda a vivência do homem ao âmbito do interesse político, termina por afogar o que há de mais nobre, livre, espontâneo e belo na natureza e no viver humano para criar, artificialmente, uma sociedade apodrecida por conceitos e práticas, respectivamente, desvinculados da realidade e inumanas que, como já amplamente é conhecido, favorecem apenas àqueles que estão dispostos e se erigirem como deuses à custa do sofrimento alheio. De homens assim a história está cheia: de Stalin a Mao Tsé Tung, o socialismo só tem servido mesmo para satisfazer as ambições e vaidades de tiranos e reproduzir, em proporções incomparáveis e jamais vistas, a degradação e o sofrimento humano.

Mesmo pautado em um discurso estreito e pueril de lutas de classes, o alcance da flexibilidade do esquema pensante socialista é notável e sem precedentes, pois o mesmo hora fala que a classe oprimida e revolucionária é a operária, hora os camponeses, outra vez os dois e, logo depois, unindo-se a estes, as prostitutas, os homossexuais, os criminosos e todos aqueles que, de uma forma ou de outra, são tidos como marginalizados sociais. De Marx a Herbert Marcuse, o socialismo, longe de construir soluções para os problemas no mundo, tem sido sempre um discurso oco e sem sentido, mas que, como já dito, tem trago para suas fileiras o que há de pior no ser humano.

O discurso socialista, ao reduzir os inúmeros problemas humanos às necessidades puramente materiais, estreita-se propositalmente em uma solução teoricamente fácil e viável para assim salvar-se como alternativa, quando na verdade deixa por explicar e levar em consideração os mais inumeráveis conflitos ligados expressamente  a natureza imaterial do homem (seus sentimentos, suas emoções, sua parte espiritual), do qual a história está cheia - como no caso da disputa de poder entre os imperadores e papas na Idade Média, da Reforma Protestante, de Alexandre e suas conquistas, das Guerras Púnicas e os dois grandes conflitos mundiais - e a vida continuamente dá testemunho. 

Seus adeptos acham mesmo, perdidos em um emaranhado de jargões e sem nenhuma manifestação de rigor lógico, que possuem a solução para todos os problemas da humanidade e que, se os deixarem agir, dando-os poder para tal, nos presentearão com uma sociedade justa, livre e igualitária. A pretensão é tão absurda que serve por si mesma como prova da insanidade mental de quem a profere.

Preso na complexidade infinita da particularidade de sua própria existência, o homem não é capaz de apreender o todo em que está inserido, apenas compreendendo, como num reflexo de luz, algumas poucas coisas enquanto outras tantas não, o que o torna incapaz, perpetuamente, de apresentar-se como arquiteto e executor de um mundo perfeito. Exprimidos que é na complexa e intricada rede de relacionamentos sociais, cabe a ele apenas, na medida do possível, melhorar uma coisa aqui e outra acolá, na certeza que problemas sempre existirão, pois são consequências de sua temporalidade física, estreiteza ética e limitada natureza intelectual.

O discurso socialista, por definição, é patológico; é a prova que o homem, tão capaz que é de alcançar grande avanços nas mais variadas áreas de sua atuação e contornar grandes problemas de sua existência, ainda comprimi-se, continuamente, em mediocridades inaceitáveis, em decadências do espírito e debate-se em deformidades intelectuais. É a obstinada continuação do homem que se ver auto-suficiente, que pretende, sem sucesso, realizar-se sem Deus.


* É graduando em Direito.


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