segunda-feira, 18 de junho de 2012

Idade Média e o ensino das mulheres

Alessandro Barreta Garcia*

            A Idade Média inicia-se a partir da queda do Império Romano, o que desencadeia uma série de fatos que levaram a civilização ocidental a uma crise econômica, social, política e fundamentalmente moral. Os invasores bárbaros, sedentos por atacar os romanos, conseguem tal proeza e imprimem o fim do domínio latino. Dessa desastrosa realidade a já em andamento concepção religiosa cristã vai aos poucos desenvolvendo uma nova ideia de educação. No ápice desse desenvolvimento, a figura de Jesus Cristo inicia uma educação pautada em escrituras e fatos representados por nosso senhor Jesus Cristo. Larroyo (1974) apontará essa representação como educação cristocêntrica.
            Inicialmente com as ordens masculinas, os eremitas orientais de origem foram abrindo espaço no mundo ocidental e assim foi foram se formando os mosteiros (internatos religiosos). Bento de Núrsia formou, no ocidente, um grande contingente de fieis a uma série de regras (castidade, obediência e pobreza). São Bento imprimiu em seus fieis uma vida de dedicação ou opus Dei, liturgia, penitência e vida em comunidade. A ordem dos beneditinos se espalhou pela Inglaterra, Alemanha e grande parte do norte da Europa.
            Nesse contexto, as mulheres eram ensinadas, sobretudo a partir do séc. VI, e deveriam ensinar outras meninas a ler e escrever, posteriormente as meninas externas (não claustral) aos mosteiros também foram ensinadas (LARROYO, 1974). Destaca-se Febrônia como supervisora do mosteiro de Nisible, Bertila proferindo aulas em Chelles, e a Irlandesa Hilda com as línguas clássicas. No séc. XII Santa Hildegarda sistematizou formalmente a educação feminina aos moldes de clausura (internas para formação de professoras), e externas para mulheres em geral. O ensino consistia de ler, escrever, calcular etc.
            Para Cambi (1999) a valorização da mulher na Idade Média trazem dois lados, um religioso a partir da figura das santas e outro na figura do amor cortês. Na formação cavalheiresca, aos vinte e um anos o cavaleiro estava apto a ser submetido ao juramento no qual deveria defender a igreja, o senhor feudal, mulheres, viúvas e órfãos. O amor à distância entre a mulher e o cavaleiro contribuía de forma decisiva na formação educacional da mulher, sobretudo no âmbito da poesia e do romantismo.
            No ponto de vista religioso, Tarnas (1999) descreve que o culto a Maria mãe de Jesus é premissa significativa para uma valorização da figura da mulher na Idade Média. Maria suaviza a ideia severa de Iavê bíblico e a tendência patriarcal da Igreja. Para Giordani (1997) é inegável que a figura de Maria tenha exaltado a mulher medieval, pois, Jesus nasce de uma mulher, em sua ressurreição aparece a uma mulher e pela exaltação de Maria a abençoada desenvolve a imagem religiosa da mulher.
            Para Carvalho (2003) na Idade Média a educação era restrita ao clero e as mulheres. No entanto a partir do reinado de Carlos Magno (em um curto espaço de tempo), com a formação da cavalaria e a formação dos estados nacionais já no fim da Idade Média a educação passa a produzir uma letrada aristocracia guerreira.
            Ainda assim a vida feminina não se limitava apenas a Igreja, as danças, fábula, o recitar de poemas, jogos como cabra-cega e da caça com o falcão também faziam parte do universo feminino. E, para as feministas modernas, as mulheres já na Idade Média exerciam as mais diversas profissões.
            É preciso destacar que a mulher romana já era favorecida em sua atividade educativa e sua participação na formação das crianças (meninas e meninos) foi fundamental para a continuidade na Idade Média.
            Ao contrário do que se pensa, a literatura sobre a Idade Média é muito diversa, e boa parte do conhecimento comum se baseia na ideia de que no período medieval as mulheres eram interpretadas à margem da educação, religiosidade, trabalho ou mesmo diversão. Na realidade, a figura da mulher foi intensamente valorizada, possivelmente mais do que em períodos anteriores. De tal modo, é preciso repensar as críticas ao período medieval, sobretudo para não perder de vista que nesse mesmo período foram relançadas as bases de nossa sociedade ocidental, especialmente, no que se refere ao homem civilizado. É especialmente o mundo cristão da Idade Média que vai conferir a mulher seu status de igualdade e presença constante na vida religiosa.
           
REFERÊNCIAS

CAMBI, F. História da pedagogia. Tradução: Álvaro Lorencini – São Paulo: Fundação Editora da UNESP (FEU), 1999.

CARVALHO, O. Santo Agostinho. Coleção história essencial da filosofia. São Paulo: É Realizações, 2003.

GIORDANI, M. C. História do mundo feudal II/2. Petrópolis, Editora Vozes, 1999.

LARROYO, F. História geral da pedagogia. São Paulo: Mestre Jou, 1974.

TARNAS, R. A Epopéia do pensamento ocidental. Para compreender as idéias que moldaram nossa visão de mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

* É Mestre em Educação. Site http://www.alessandrogarcia.org/

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