quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ideologia vagabunda no vestibular da UFU


Henrique Otani*

Textos de Marilena Chaui e Gabriel Chalita, de Ari Oliveira Zenha e Eric Hobsbawn, trechos retirados da Carta Maior e da não menos revolucionária Folha de São Paulo. O vestibular da Universidade Federal de Uberlândia, aplicado nesse final de semana em seis cidades e com mais de 17 mil inscritos, deixou evidente o aluno que quer selecionar.

Uma breve análise do conteúdo programático de sociologia antecipa o conteúdo do exame. Todavia, algumas das questões merecem ser analisadas com maior cautela, como a 55, que trata das improváveis diferenças entre os movimentos sociais modernos e os movimentos sindicais – esses, classificados como “tradicionais”, emergiram na década de 1970, durante o regime militar.

Em suma, há uma exaltação exagerada e mentirosa desses movimentos, uma vez que todos buscam a “ampliação da cidadania com base na supressão das desigualdades econômicas, a democratização da sociedade e o fim da opressão simbólica”. Para a alternativa correta, no entanto, a única diferença está no suprapartidarismo e multiclassismo dos movimentos sociais. De fato, a afirmativa é verdadeira: não há, de modo geral, oposição ao feminismo, homossexualismo e outros “ismos” deveras autoritários contidos na agenda do marxismo cultural, sempre financiados com verbas de grandes empresários iludidos com a falácia “progressista” desses movimentos. A revolução é cara, logo, é multiclassista. É o caso da Revolução Bolchevique: no livro “Wall Street e os Bolcheviques”, o autor documenta o financiamento capitalista da revolução.

Todavia, a contradição vai além e é facilmente demonstrada com um exemplo recente: como um movimento que busca a democracia e o fim da opressão simbólica delibera a agressão de um docente contrário ao seu ideal? O fato ocorreu com o Dr. Marcelo Hermes Lima, ameaçado ao decidir a não adesão à greve na Universidade de Brasília, e foi noticiado em matéria no site Ucho.info.

O teste 59 trata da tramitação de uma lei que visa liberar a terceirização em todos os setores de uma empresa. Segundo o texto, retirado do site Carta Maior, alguns sindicatos são contrários à liberalização nas denominadas “atividades-fim”. A lei não será aqui discutida, e sim a elaboração do enunciado. Inicialmente, há a denominação dos teóricos clássicos e, logo após, a cômica inclusão de Karl Marx em tal grupo, uma vez que “suas reflexões sobre o estado são capazes de iluminar o estudo do sistema legislativo nacional”.

O candidato se vê obrigado a analisar o assunto abordado segundo a ótica marxista, impossibilitando discordâncias. O estado em discussão é o “estado burguês”, a comissão executiva das classes dominantes, eliminando a viabilidade de uma democracia – em sua faceta representativa, onde os representantes escolhidos e suas decisões refletem os ideais daqueles que os escolheram – em um estado capitalista.

A alternativa tida como correta refere-se ao estado como a expressão da luta de classes, logo, o legislativo refletiria os interesses de setores antagônicos. No caso, o legislativo refletiria os interesses daqueles favoráveis à liberalização das terceirizações – os empresários, visando lucrar cada vez mais -, em contraponto aos trabalhadores diretos. Entretanto, não há uma discussão minuciosa do assunto, desconsiderando o que ocorre em outras nações ou até mesmo em empresas maiores no Brasil – como montadoras de veículos -, no que tange à terceirização dos setores, tornando impossível a formação de uma opinião crítica e isenta do candidato.

O último teste traz um texto da Carta Maior sobre o “esculacho” realizado no dia 12 de abril em frente ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília. Os manifestantes simularam cenas de tortura e atribuíram à corte a impunidade dos atentados aos direitos humanos ocorridos durante o regime militar, uma vez que a mesma reafirmou a validade da Lei da Anistia no ano de 2010. Para o enunciado, a manifestação demonstrou que a democratização está incompleta e transcende as eleições típicas do modelo representativo e, segundo o gabarito, há movimentos sociais dispostos a cobrar uma releitura da história recente, garantindo o direito à “verdade”.

A verdade mencionada é relativa e a aplicação do exame coincide com a formação da “Comissão da Verdade”. Carente de historiadores em sua composição, sendo assim incapaz de apurar com rigor científico e isenção os casos de tortura no Brasil, cometidos entre 1946 e 1988, a comissão não conta com nenhum representante das Forças Armadas, reforçando ainda mais seu caráter unilateral. Como exposto no artigo “Promessa cumprida” de Olavo de Carvalho, a tal “verdade” buscada está escrita desde a década de 1960 e somente reforçará a “maldade da direita e a santidade da esquerda” com devida ênfase.

O movimento social abordado no teste busca essa mesma “verdade”: a história das torturas e abusos que o estado cometeu, desconsiderando os crimes – muitas vezes cometidos com maiores requintes de crueldade – da esquerda armada.

A tragicomédia vai além e há ainda, no teste 56, a flexão de gênero como manda a “importantíssima” lei – as universidades são obrigadas a flexionar gênero em diplomas de mulheres – sancionada recentemente, durante o último surto feminista de Dilma Rousseff.

Um adendo curioso: na única cidade de São Paulo em que o vestibular foi aplicado, Ribeirão Preto, ocorria a Feira Nacional do Livro. Um dos homenageados era Paulo Freire e, entre os “clássicos” vendidos, estavam João Quartim de Moraes, Marilena Chaui e até mesmo o ilustre autor de “Marli Meu Travesti”, Amaury Ribeiro Jr. Havia ainda uma livraria dedicada ao assunto, a Expressão Popular. É a tal democratização da cultura e educação, mas os valores, no entanto, eram burgueses.

Notas e referências:

No dia 1 - biologia, física, geografia, língua portuguesa, literatura e sociologia - merecem destaque também os testes 26, 56 e 57. No dia 2 - filosofia, história, inglês, matemática e química -, os testes 10, 15, 16, 19, 20 devem ser analisados com a mesma atenção.

O livro “Wall Street e os Bolcheviques” está disponível na Biblioteca Digital da Juventude Conservadora da UFSC.

Utopia esquerdista leva grevistas da UnB a marcarem dia e hora para agredir professor contrário à greve“: matéria que denunciou e evitou – graças ao compartilhamento inicial de Graça Salgueiro no Facebook – a agressão contra o Dr. Marcelo Hermes Lima.

Promessa cumprida“: artigo de Olavo de Carvalho sobre a “Comissão da Verdade”.

As fontes dos demais textos citados estão disponíveis nos exames.

O Escola Sem Partido cumpre um importante papel na denúncia de casos de doutrinação ideológica no âmbito da educação brasileira.

Texto originalmente publicado em Scientia et Veritas e Escola Sem Partido.

* É editor do site http://www.sapientiaetveritas.com/.  

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