sábado, 12 de maio de 2012

As falácias e os mecanismos do antitabagismo militante

Henrique Otani*

Na década de 1950, nos Estados Unidos, o mercado de cigarros encontrava-se em seu auge e, consequentemente, outros mercados cresciam em contiguidade, como o da propaganda, baseada em associar aos fumantes traços de liberdade, virilidade e charme.

No entanto, o cenário estabelecido resultava em um embate direto com grupos ideologicamente voltados a combater a economia de mercado e a liberdade individual – valores essencias em uma sociedade -, levando à formação do movimento antitabagista moderno, baseado inicialmente nos estudos de Richard Doll, que relacionavam diretamente o fumo com diversas doenças.

Desde então, inúmeras medidas regulatórias são tomadas ao redor do mundo no intuito de tutelar os cidadãos, caracterizando um flerte danoso com o autoritarismo. Como exposto no tardio artigo de Walter Williams, intitulado “Americans Have Become Compliant”, as exigências iniciais foram “razoáveis”, como avisos nas embalagens de cigarros e zonas de não-fumantes em aviões, mas com o gradual sucesso, as demandas foram se tornando cada vez mais abrangentes. Williams conclui então que, se todas essas exigências fossem apresentadas no início do movimento, os zelotes do antitabagismo teriam falhado logo de início.

O filósofo Olavo de Carvalho, comentando o artigo de Williams, explica que a campanha antitabagista nunca teve a ver com a saúde coletiva. Trata-se apenas de um bem sucedido caso de engenharia social em escala global, um teste visando tomar medidas cada vez mais abusivas e autoritárias, no intuito de desvirilizar a sociedade, tornando-a incapaz de se opor aos delírios da elite globalista que visa implantar um governo mundial. Acerca desse teste, Olavo ressalta:

“A escolha do tema foi especialmente ardilosa, visando a seduzir conservadores, evangélicos e moralistas em geral, desarmando-os preventivamente ante quaisquer campanhas subseqüentes baseadas no mesmo modelo e usando a própria força deles para sufocar na “espiral do silêncio” as poucas vozes discordantes. Uma vez que você cedeu tudo à pretensa autoridade científica dos organismos internacionais em matéria de “saúde”, fica difícil reerguer a cabeça quando essa autoridade, em seguida, estende seus domínios para as áreas da alimentação, da educação escolar, da moral sexual, da vida familiar e assim por diante. A facilidade estonteante com que a elite revolucionária instrumentalizou os seus próprios adversários mais ardorosos aparece condensada simbolicamente num detalhe cômico, ou tragicômico, que denota a fragilidade estrutural da reação anti-estatista: o uso do tabaco é rigorosamente proibido nas sedes das organizações libertarians que defendem a liberação da maconha.”

Todavia, entender os mecanismos desse movimento é tarefa complexa, sendo necessário compreender ao mesmo tempo suas falácias. Em uma análise rigorosa, observa-se que não houve diminuição da incidência das doenças relacionadas ao fumo, mesmo com a diminuição drástica do número de fumantes ao redor do mundo. Os epidemiologistas James Enstrom e Geoffrey Kabat, ressaltam que apesar dos diversos estudos realizados, “evidências epidemiológicas são ignoradas e resultados inconsistentes são incluídos, tudo à luz de motivos questionáveis”. Por exemplo, no que tange aos não-fumantes, há três motivos que causam controvérsias nos dados tidos como verdadeiros: (1) o fato da fumaça do cigarro ser tão diluível no ar torna os índices implausíveis; (2) os resultados de estudos em que evidências epidemiológicas são baseadas; (3) a importância desses estudos a dois grupos tão distintos – a indústria e o movimento antitabagista -, que dificulta a avaliação das evidências.

No entanto, as controvérsias não se restrigem ao âmbito estritamente científico, sendo a vigarice também matemática. Todos os anos, a Organização Mundial de Saúde divulga números assustadores de “vítimas” do tabagismo, mas esconde que, a exemplo, a maioria dos óbitos são de fumantes em idade avançada. A viseira é a seguinte: se era fumante, entra nas estatísticas, independente da causa mortis. Afinal, o espetáculo move a sociedade.

Retomando a propaganda como discussão, há um fato curioso, capaz de legitimar o argumento de Olavo de Carvalho sobre engenharia social: a restrição de anúncios de cigarros em revistas, televisão e outras mídias é comum em inúmeras nações, todavia, o mesmo não ocorre com bebidas alcoólicas. Restringir o fumo em locais de utilização comum é “aceitável”, ou no mínimo discutível, mas banir a propaganda de cigarros é uma afronta à liberdade como um todo. Não é incomum, assistindo-se aos noticiários, tomar nota de óbitos em acidentes de trânsito nos quais motoristas imprudentes apresentavam-se embriagados. O não-fumante goza de inúmeros regulamentos que o protegem, mas a vítima de um atropelamento encontra-se em situação diametralmente oposta: o castigo ao motorista vem depois – em alguns casos antes, se a embriaguez for constatada em flagrante. Portanto, não há argumentos que elucidem as restrições ao cigarro e a manutenção da propaganda do álcool.

O indivíduo, como dizia John Locke, não deve ser forçado a ser saudável contra a sua vontade. Menos ainda a ser saudável segundo a ótica de um estado submetido aos anseios de uma “elite esclarecida”. Fumar ou não é uma escolha que cabe apenas ao indivíduo, afinal, suas consequências recairão apenas sobre ele.

Notas e referências:
Engenharia da complacência“: o artigo completo de Olavo de Carvalho, no qual o filósofo comenta o texto de Walter Williams e acrescenta seus argumentos.

Environmental Tobacco Smoke and Coronary Heart Disease Mortality in the United States—A Meta-Analysisand Critique“: o artigo apresenta as conclusões dos supracitados estudos de Enstrom e Kabat.

O site Forces.org reúne diversos artigos em defesa do assunto aqui abordado. Há duas leituras recomendadas: “On playing the Nazi card” e “Economic Effects of Smoking Bans on Restaurants and Pubs“.

Texto originalmente publicado em Sapientia et Veritas.

* Editor do blog Sapientia et Veritas.

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