quinta-feira, 31 de maio de 2012

A importância da família à luz da política de Aristóteles

Alessandro Barreta Garcia*

Ressaltar que para Aristóteles, o sistema educacional da cidade começa muito antes do próprio nascimento de uma criança, e o fim desta educação é sempre a busca da felicidade é reviver temas importantes nos quais hoje em dia são deixados de lado (ARISTÓTELES, 1985).
Notar que a cidade é a junção de pequenas famílias que formam um povoado e a junção de vários povoados forma-se, finalmente, a cidade, e que nesse sentido a família é a primeira célula da cidade precisa ser constantemente lembrado, pois muitos pais se esquecem de suas obrigações como provedores de um tratamento saudável aos seus filhos.
Para Aristóteles, o todo prevalece sobre as partes, assim como a cidade prevalece sobre as famílias e povoados. No Brasil o Art. 226 da Constituição garante que: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. Sendo que, “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (BRASIL, 1988). Dessa forma Aristóteles é a grande inspiração constitucional para a garantia da perpetuação da espécie. Aristóteles defende com a seguinte orientação, “quando todo o corpo é destruído pé e mão já não existem” (ARISTÓTELES, 1985, p. 15). O ser humano, nesse caso, necessita da cidade, é parte integrante dela, e se não for, suas funções se perderão. O ser humano é subordinado à cidade, assim como a mulher e a criança são dependentes dos homens. No caso da criança, sua realidade é descrita da seguinte forma: “A criança ainda não é completamente desenvolvida, e portanto suas qualidades obviamente não podem ser consideradas apenas em relação a ela mesma, e sim ao homem inteiramente desenvolvido, ou seja, à pessoa que tem autoridade sobre ela” (ARISTÓTELES, 1985, p. 33–1260b).

Certamente, que, considerando a criança em relação ao homem já bem formado, suas potencialidades se distinguem, pois suas ações ainda não são consideradas suficientemente autônomas. Ficando claro que as partes de um todo constituem a formação da cidade e certos que as famílias são constituídas de homens, mulheres e crianças, é possível perceber que a educação das crianças deve ser direcionada a partir da constituição formal do estado, portanto deve ser pública.

O Casamento segundo Aristóteles

Aos sessenta anos termina a capacidade de se procriar para os homens, para as mulheres termina aos cinquenta anos. Observamos ainda as orientações abaixo:

É conveniente, portanto, que as mulheres se casem por volta dos dezoito anos de idade, e os homens aos trinta e sete ou pouco antes, pois assim haverá tempo bastante para que a união transcorra enquanto as duas partes estão com o corpo em pleno vigor e para que a cessação da capacidade procriadora ocorra numa época convenientemente coincidente.  (ARISTÓTELES, 1985, p. 260).

Devem as mulheres, a exemplo de Esparta, exercitarem-se, e cabe ao legislador adotar medidas para que o exercício leve se torne hábito das mulheres grávidas. As crianças recém-nascidas merecem cuidados especiais. Nesse caso, a atividade física é de grande importância no processo educacional da criança. Além das atividades físicas, o leite também é fundamental na criação da prole. “Também é conveniente levá-los a fazer todos os movimentos compatíveis com a idade”.  (ARISTÓTELES, 1985, p. 262). Logo se indica que um cuidado com a criança deve ser conveniente com sua faixa etária, adequado a sua forma física. Para Aristóteles:

É aconselhável usar no período inicial da vida estes métodos de cuidar das crianças ou outros equivalentes; no período seguinte a estes, até os cinco anos, não é aconselhável encaminhá-las a qualquer espécie de estudo ou a afazeres compulsórios, porque isto lhes perturba o crescimento, mas elas devem ser levadas a movimentar-se o bastante para evitar a indolência corporal; pode-se chegar a este resultado de varias maneiras, principalmente por meio de jogos infantis.  (ARISTÓTELES, 1985, p. 262).

Aristóteles (1985) certamente tinha a intenção de educar a Grécia, ele próprio se afastou de uma atitude de governante e se colocava como figura de educador. Segundo Carvalho (2006): “Quando Aristóteles, por exemplo, ensina um governante, ele não tenta ser o governante” (p.49). Olavo de Carvalho explica por meio de uma dialética, que cada filósofo dentro da tríade Sócrates, Platão e Aristóteles teve suas funções bem distintas. “o filósofo mártir, o filosofo líder e governante, e o filosofo como professor de sua comunidade, como orientador mas não como chefe” (p49).
Ao classificar idades, estabelecendo normas, leis de conduta e organização minuciosa da cidade-estado, as ideias prescritas por Aristóteles transcendem a Antiguidade grega do século IV a.C. Nesse caso, foi possível observar uma direta relação entre o governante, o governado e a educação, portanto, um processo dialético e político (GARCIA, 2011).
Com um sistema orgânico desde a formação da cidade, Aristóteles nos apresenta um tipo de estrutura de ensino conservador frente às mudanças deletérias observadas na educação brasileira. Deste modo, o governante deve pensar na cidade em desenvolvimento, pensar como ela deve se organizar e proporcionar uma educação completa, organizada, e minimamente ordenada.
Ficando essa educação cercada de grande preocupação, Aristóteles espera uma vida justa e feliz, com organização e autossuficiência evitando-se, o excesso de moradores no qual é incompatível para o equilíbrio do Estado. Uma família composta de homem, mulher e filhos como prevista na constituição já era para Aristóteles o principio de uma cidade justa e feliz, evitando-se a barbárie e decadência educacional.

Referências

ARISTÓTELES. Política. Trad. De Mário da Gama Cury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985, 317p.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

CARVALHO, O. O projeto socrático. Coleção história essencial da filosofia. São Paulo: É Realizações, 2006, 69p.
GARCIA, A. B. Aristóteles nos manuais de história da educação. 1. Edição, São Paulo: Clube de Autores, 2011.

* É mestre em Educação e articulista do MAC- Movimento Aliança Cidadã. Site: http://www.alessandrogarcia.org/

Texto originalmente publicado em Movimento Aliança Cidadã


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